F de Fim

Foi no dia 7 do 7... sempre tive dificuldade em memorizar datas, mas esta ficou gravada a ferros...

Estava lua cheia, uma lua tão cheia que nos iluminava o caminho mais do que qualquer outra luz artificial... foi esta lua que me acompanhou durante a viagem mais difícil da minha vida, aquela que fiz para te ir buscar, para constatar que afinal o fim era real, para te trazer para a tua terra, para esta terra que finalmente te houvera de cobrir, num ritual insuportavelmente doloroso!

É com mágoa, dor e a muito custo que, dia a dia, vamos constatando que na realidade, por muito que tentemos evitar essa verdade, tudo tem um fim e, como tal, também tu o tiveste...
E são as pequenas coisas que nos vão fazendo cair nessa triste realidade:

porque olho para o meu telemóvel na vã esperança de voltar a ver a piscar a chamada, e ver escrito no ecrã a palavra PAI, mas os dias passam e isso não acontece...

porque todos os dias me apetece pegar e ligar, mas não tenho coragem para o fazer porque no fundo sei que ninguém vai responder...

porque sei que não tive oportunidade de me despedir de ti e não mais a vou ter, por isso tento fazer essa despedida em pequenas coisas no dia a dia...

porque sei que nunca mais me vou poder irritar contigo porque me mandaste comentários estupidos no hi5, porque nunca mais vais mandar comentário nenhum...

porque sei que nunca mais me vais ligar e ter conversas intermináveis, em que me perguntavas dez vezes a mesma coisa e eu te respondia sempre como se ainda não me tivesses feito a pergunta, porque eu sabia que a tua memória já te pregava muitas partidas...

porque o belenenses perdeu um dos poucos adeptos ferrenhos...porque ninguém é ferrenho do belenenses, mas o meu pai é, costumava eu dizer, e agora vejo-me obrigada a dizer "era"...e custa...

porque finalmente tinhas um neto...um rapaz...para lhe comprares equipamentos de futebol e chuteiras e ensinares a conduzir quando fosse grande...mas a vida achou por bem não te dar essa oportunidade...vá-se lá entender certas coisas...

porque nunca mais me vou poder queixar de que implicavas comigo, que me agarravas muito, que eras chato e tavas sempre a dizer que gostavas de nós (e eu não gostava porque aquilo me soava sempre em jeito de despedida)...

porque nunca mais vou poder dizer que tás a ficar um velho rezingão igualzinho ao avô A. ...porque agora já não tás...

porque nunca mais me vais voltar a ligar a perguntar como está a tua neta, se eu estive com ela e se ela perguntou por ti...

porque ela nunca mais vai poder ligar ao avô L. ...

porque eu sei que tu tinhas muito medo que isto te acontecesse...e depois acabou por acontecer assim...sem noticia e sem aviso...sem poderes despedir-te de todos aqueles de quem tanto gostavas e gostas (estejas lá tu onde estiveres)...

Resta-nos o consolo de que a tua viagem foi rápida e não sofreste muito!! Por mais que nos custe a nós que cá ficamos, a lidar repentinamente com a tua ausência...dia a dia...hora a hora...

Para mim ainda é muito cedo, e a realidade é que ainda não consigo pronunciar aquelas palavras, que transmitem o verdadeiro significado daquilo que aconteceu...espero que com o tempo vá diminuindo este nó que sinto cá dentro...

Mas a saudade vai ficar cá sempre...e vai crescendo cada vez mais à medida que o tempo passa e a tua ausência se vai tornando mais real!